Uma geração entre dois mundos

Em um cenário complexo e até contraditório, o número de pessoas que se consideram religiosas e ao mesmo tempo “desigrejadas” aumenta a cada dia

André Vasconcelos

É fato que os jovens de hoje, especialmente os nativos digitais, experimentam a religiosidade de uma forma diferente. E uma dessas diferenças, em comparação às gerações anteriores, são os questionamentos da juventude sobre as instituições eclesiásticas. Por outro lado, também é verdade que muitas denominações cristãs têm em sua membresia uma maioria jovem.

Nesse cenário complexo e até contraditório, o número de pessoas que se consideram religiosas e ao mesmo tempo “desigrejadas” aumenta a cada dia. Crer em Deus não é mais sinônimo de ter vínculos com um grupo religioso, assim como frequentar reuniões de igreja já não é evidência de uma vida pautada pela moralidade e pelo compromisso com as Escrituras Sagradas.

A tendência parece apontar para um tipo de religiosidade sem religião, na qual a experiência existencial e a ausência de conflitos internos são mais importantes do que a crença e a ortodoxia. Outro caminho tem sido a prática de uma religião apática, desprovida de uma verdadeira transformação de vida e hábitos. Esses desafios espirituais são apenas uma amostra do que a mais nova geração cristã tem que enfrentar em uma sociedade pós-moderna, líquida e hedonista.

Em meio a tantos barulhos e ruídos, ouvimos a voz de uma jovem que se propôs a escrever sobre essas lutas. Estudante universitária e com apenas 23 anos, Karol Aguiar tem “lugar de fala” para retratar as batalhas e tentações que sua geração enfrenta diariamente em nossa sociedade.

O resultado dessa reflexão é a cativante história narrada no livro Sono Eterno (CPB, 2021). Karol relata os dramas de Mateus, um jovem cristão. Amado pelos pais, Júlia e Marcos, o personagem cresce em um lar afetuoso. Seus conhecidos frequentam a mesma igreja, o que lhe proporciona, do ponto de vista dos pais, relacionamentos saudáveis e um ambiente social seguro e feliz.

Porém, conforme a história se desenvolve, as influências negativas e as dificuldades na vida cristã se tornam mais fortes para Mateus. Lucas, seu melhor amigo, e Letícia, sua namorada, tentam adverti-lo, já que ele vacila entre dois mundos. Mateus precisa tomar uma decisão.

Quem gostou de ler o livro Projeto Sunlight (CPB, 2011), de June Strong, certamente vai apreciar essa história, que ressalta o perigo de ficar em cima do muro da incerteza. É uma reflexão indispensável para jovens e adolescentes; é também um apelo para refletir sobre o presente com os olhos no futuro. A exemplo de Mateus, o protagonista, precisamos tomar uma decisão e reavaliar nossos conceitos, antes que seja tarde demais.

 

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