Problemas financeiros: saiba como enfrentar a fase ruim!

por Julián Melgosa, doutor em Psicologia

Em algum momento da vida, todo mundo passa por cir­cunstâncias em que o dinheiro se torna escasso por alguns dias ou semanas. Ajustes e sacrifícios são necessários e, finalmente, a situação é superada. Entretanto, às vezes, as coisas se complicam muito, chegando a uma situação crítica em que se passa a dever muito mais do que se tem. Em tal cir­cunstância, as pessoas ficam expostas à alteração da saúde mental e, para evitar essa situação, medidas radicais precisam ser colocadas em prática.

A perda do emprego também é um fator que resulta em forte choque emocional e não apenas em falta de receita financeira. Ela engloba a torrente de efeitos psicológicos e emocionais motivados pela falta de atividade, de estrutura de procedimentos, de segurança, de autoestima, de senso de contribuição, de interação social e desenvolvimento pessoal. O trabalho supre grande número de necessidades psicológicas e emocionais; por isso, sua perda se torna quase sempre traumática.

Os efeitos da crise econômica são comparáveis aos produzidos em outras situações adversas, como divórcio ou morte de alguém querido. A pessoa afetada também pode passar por momentos de desgosto, frustração e desesperança, seguidos por períodos de esperança e previsão de uma porta que possa se abrir.

Esses efeitos não se limitam ao pai e à mãe, mas atingem os filhos. As crianças também sofrem com a perda de emprego. Além disso, nos casos de desemprego, dados estatísticos indicam aumento na violência para com o cônjuge e abuso sexual dos filhos. A pressão causada pela interrupção do trabalho induz o desempregado a tomar essas atitudes, muitas das quais poderiam ser evitadas com uma atividade adequada de trabalho.

Problemas financeiros e o nosso psicológico

Problemas financeiros e o desemprego – como superá-lo

Qualquer pessoa pode passar pelo problema do desemprego. Enfrentar essa situação requer boa medida de resiliência, ou seja, capacidade para se recuperar de determinada situação, a fim de que não se precipite e caia na ruína material e emocional. A seguir, algumas sugestões para enfrentar esse tipo de situação.

Seja realista e analise a situação

Evite colocar a culpa exclusivamente em você. Investigue a causa real. Na maioria dos casos, as demissões se devem a problemas financeiros e não à falta de capacidade do demitido. Assim, não se culpe, pois sua autoestima baixará e você terá maior difi­culdade para encontrar um novo emprego. Mas, se a ­culpa for realmente sua, invista tempo em se preparar e compensar suas deficiências.

Informe-se de todos os seus direitos

No Brasil, os desempregados contam com o seguro desemprego. Não existe nenhum mal em reclamar seus direitos e buscar o que o sistema lhe oferece. Faça uso dessas receitas financeiras para pro­curar outro trabalho e não para tirar férias.

Reduza imediatamente suas despesas

Controle ao máximo suas despesas para poder se ajustar às limitadas receitas. Utilize maneiras econômicas de se alimentar, vestir e recrear. Imediatamente, você se dará conta de que, se for cuidadoso, poderá viver com bem menos.

Organize sua vida

Fuja da desorganização. Paradoxalmente, existem pessoas que dispõem de muito tempo e acabam sem estrutura e sem ordem. Coloque ordem em sua vida, levantando-se e deitando-se em horários programados. Dedique boa parte de seu tempo para pro­curar trabalho.

Procure apoio

Antes que apareça algum sintoma ligado à depressão, pro­cure apoio emocional de alguém que possa ouvir e aconselhar você. Todos os dias, dedique alguns momentos para conversar com seu melhor amigo ou familiar para compartilhar suas atividades e conquistas; e seja receptivo a seus conselhos. Pro­cure também encontrar boa fonte de apoio em organizações acessíveis: igreja, clubes ou grupos de autoajuda.

Procure trabalho de todas as formas

Em sua pro­cura por trabalho, não se limite, por exemplo, a fazer cartas e solicitações. Use estratégias variadas. Consulte jornais, anúncios na internet, concursos públicos, trabalhos temporários, os que se relacionam diretamente com seu preparo, etc. Saia e ofereça seu serviço em diversos lugares. Converse com muitas pessoas, lembrando-se de que muitos empregos são conseguidos por meio de referência pessoal.

Ofereça seu trabalho como voluntário

Se não encontrar trabalho imediatamente, apresente-se para trabalhar como voluntário em algo relacionado com seu ofício ou profissão. Além de isso acrescentar experiência, pode lhe abrir a porta para um trabalho no mesmo local ou proporcionar boa recomendação.

Não se esqueça do lazer

Não deixe de se o­cupar com algum passatempo que lhe agrade, especialmente na companhia de pessoas. Não se enclausure nem se isole, para evitar qualquer sintoma depressivo.

Fuja de substâncias nocivas

Os desempregados correm o risco de fazer uso excessivo de álcool, cigarro, cafeína, etc. Essas substâncias são nocivas; debilitam a força de vontade e podem induzir aos jogos de azar.

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Efeito do desemprego nos filhos

Um estudo de grande relevância, realizado na Finlândia (Solantaus, Leinonen e Punamäki, 2004), apresenta os efeitos que o desemprego pode causar na família. Participaram dessa pesquisa 527 famílias, todas com pelo menos um filho de 12 anos. Os pais preencheram 15 questionários sobre sua situação familiar, histórico do trabalho e desemprego, e relações familiares. Por sua vez, os filhos preencheram um questionário de 112 itens, destinado a fazer conhecer seu estado mental e de conduta. Os resultados mostraram os efeitos diretos e indiretos das alterações econômicas dos pais sobre os filhos. Os períodos de crise econômica, comparados com os períodos estáveis, provocaram nos filhos altos níveis de:

  • Agressividade
  • Depressão
  • Desobediência

As alterações foram observadas independentemente do nível econômico das famílias. Isso significa que os problemas afetaram tanto as famílias com poupança e re­cursos para emergências como as que não possuíam reservas.

Prepare-se para o imprevisto

Às vezes, entramos numa crise econômica não pela perda do emprego, mas por uma despesa relevante que surge de improviso. Por exemplo, um conserto no carro, a aquisição de uma geladeira nova, porque a antiga não funciona mais, ou uma despesa médica inesperada.

Uma forma eficaz de enfrentar esse tipo de adversidade, para a qual não existe cobertura de seguro, é abrir uma poupança para emergências, seguindo os seguintes passos:

  1. Separe 10% de seu salário todos os meses, durante dez meses. Isso constituirá um fundo sólido equivalente a um salário mensal para enfrentar emergências.
  2. Diante de um forte motivo, faça uso desse fundo.
  3. Nos meses seguintes, reponha o que usou até conseguir o mínimo desejado.
  4. Utilize o fundo somente para emergências.

Esse sistema o socorrerá em situações difíceis sem que você note.

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O que se quer e o que se precisa

Em tempos de consumismo voraz, é preciso distinguir a necessidade do desejo. Antes de fazer uma compra ou despesa, especialmente quando a situação econômica é instável, precisamos perguntar a nós mesmos: “Preciso disso realmente?”

Necessidade

É aquilo de que precisamos dispor para sobreviver. As necessidades têm prioridade absoluta na hora de se gastar o dinheiro. Nelas, não somente estão incluídas as necessidades físicas, mas também as sociais e psicológicas.

Desejo

É tudo o que se torna desejável, mas sem o qual podemos sobreviver perfeitamente.

Essa diferença (ainda que subjetiva em parte) é de grande ajuda para controlar as despesas. Compreender claramente o que é necessidade e o que é desejo, ajudará a estabelecer prioridades no uso do dinheiro.

Fonte: Revista Vida e Saúde, outubro de 2012

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